A
ação eclesial em ação
«Por
entre as linhas que tecem esta forma de estar no mundo, o apelo divino
encontrará um lugar real e bem-disposto onde ressoar, um sujeito capaz de o
pressentir afetivamente, de o discernir com inteligência, de lhe responder
livremente, precisamente enquanto o reconhece digno de confiança. Finalmente,
de confiar e de se confiar, de assentir e de se empenhar, isto é, de avançar a
própria existência como penhor-garantia dessa decisão livre. Por outras
palavras, de crer». (José Frazão Correia, «A Fé
como forma vital e forma expressiva da existência humana», in Aa.Vv., A fé da Igreja, ed.
Paulus, Lisboa 2014, 22).
O texto em análise fala-nos de
quando há necessidade de repensar a Igreja no mundo atual, tendo por base a
necessidade de reconsiderar a identidade cristã, numa sociedade em
transformação permanente.
A ação da Igreja identifica-se
por um conjunto articulado de ações evangelizadoras entre os agentes da
Evangelização, devidamente articulados e conjuntamente com uma visão eclesial
global. Essa é a ação de todos os cristãos enquanto Igreja, a articulação
evangelizadora da Igreja com o sacramento universal da Salvação.
A tarefa fundamental e objetivo
final da ação eclesial é estar no mundo ao serviço do Reino.
A fé que se realiza, que se
vive, que se proclama e celebra, as funções, mediações eclesiais clamados
sinais evangelizadores distribuem-se do seguinte modo:
-Serviço (Diaconia): caridade, serviço, promoção, educação, liberdade e
solicitação;
- Comunhão (Koinonia):
comunhão, fraternidade, reconciliação, unidade, comunicação e comunidade;
-Anúncio (martírio): anúncio, testemunho, profecia, catequese e pregação;
-Liturgia: eucaristia,
sacramentos, celebrações, festas, devoção e oração.
São estas as funções ou
mediações eclesiais (“sinais evangelizadores”) da Igreja ao serviço do Reino de
Deus.
À luz desta divisão
quadripartida, a cada uma das ações corresponde um dos âmbitos principais da
ação eclesial/funções sacramentais, que são:
- Missionário: presença,
serviço, diálogo, testemunho e primeiro anúncio;
-Catecumenal: acolhimento,
acompanhamento, catequese, iniciação e mistagogia;
-Pastoral: caridade, pregação,
catequese, vida de comunidade e celebração;
- Presença no mundo:
testemunho, promoção, participação, ação cultural e ação sociopolítica.
Para que se possa realizar a
ação eclesial, os agentes e condições institucionais são as estruturas,
instituições e serviços. Tudo está implicado para uma boa pastoral.
O
objetivo e tarefa fundamental da ação eclesial ao serviço do Reino
A Igreja existe ao serviço do
projeto do Reino de Deus, não o é mas para ele caminha. Constitui na terra o
princípio deste reino de amor, paz e justiça. É o anúncio da presença do grande
projeto de Deus anunciado no Novo Mandamento. Ela é o sacramento universal da
salvação, de todos, ad intra e ad extra. A praxis eclesial é uma
operação transcendental.
A praxis vê-se projetada para a
vinda e crescimento dos valores do Reino, a comunhão com Deus e com os homens,
a fraternidade e a felicidade.
Segundo o Gaudieum et Spes a Igreja,
ao serviço da humanidade, está no mundo, para o mundo, repensando-se a relação
Igreja-Mundo. O mundo é o lugar de realização do Reino através do Espírito. A
Igreja constitui-se como sacramento da salvação na medida em que vive e realiza
o amor e a caridade. A ação da Igreja é: serviço, comunhão, anúncio e ritos,
sintetizando os quatro sinais evangelizadores.
O ideal do reino faz-se visível
no mundo por meio de quatro formas fundamentais: diaconia (amor e
fraternidade), koinia (comunhão), martíria (anúncio salvífico do
Evangelho) e liturgia (celebração e ritos festivos de alegria).
Como nenhuma mediação consegue
sozinha caminhar para o Reino, antropologia, soteriologia, sacramentologia e
dogmática encontram-se interligadas e a trabalhar conjuntamente em cada
organização da Igreja.
Os quatro fatores
antropológicos que se relacionam com o anúncio e celebração (Diaconia) da Igreja são a ação, a
relação, o pensamento e a celebração.
A Koinia corresponde ao desejo de irmandade e à paz universal. Ao Martírio corresponde o desejo de
libertação e de interpretação da vida e da história. A Liturgia torna os cristãos portadores de esperança através do
anúncio de Jesus.
Os quatro anteriores sinais evangelizadores
manifestam a missão da Igreja no mundo, que é a de oferecer a todos um novo
amor universal, uma nova forma de convivência fraterna, uma mensagem e
testemunho preenchido de vida e de esperança e um conjunto de ritos expressivos
de uma vida em plenitude.
As funções eclesiais não podem
separar-se entre si como realidades independentes. A diaconia e a koinia tem um
lugar de destaque, pois contém os valores fundamentais do Reino, de amor e comunhão.
Há uma complementaridade entre
os sinais. O conjunto das funções eclesiais constitui um todo orgânico da
globalidade da experiência eclesial.
A ação missionária,
catecumenal, pastoral, presença e ação no mundo são os âmbitos principais do
processo evangelizador.
A Incarnação do Verbo é
fundamental porque na carne se vive a fé e adesão a Cristo. A dimensão mais
eficaz faz parte do sacramento da Eucaristia e é a da caridade na
evangelização.
A Igreja realiza a sua missão
por etapas: anúncio missionário, anúncio catequético, anúncio pastoral e
anúncio no mundo.
A missão dirige-se aos crentes
e aos não crentes, porque Deus quer que todos se salvem e assume várias formas,
de presença, serviço, diálogo e testemunho, até chegar ao anúncio do Evangelho.
Na passagem do anúncio
missionário para o catequético é quando o individuo sente o apelo no seu
coração e quer aderir à fé. Dá-se o seu acolhimento, acompanhamento, catequese,
iniciação em ritos e sacramentos. A ação catecumenal é uma função essencial da
Igreja, expressão da sua maternidade.
Quanto ao anúncio pastoral nele
há vivência e formação. È a ação dentro da comunidade eclesial, no exercício
das tradicionais funções de culto, celebração, sacramento, pregação catequese,
vida da comunidade e serviço da caridade.
O anúncio no mundo é o
testemunho evangélico na sociedade, feito através de obras de promoção humana,
de ação social, educativa e cultural, fomento da paz e do compromisso
ecológico.
Os agentes e instituições da
prática eclesial compõem-se por pessoas, instituições e serviços para que a
Igreja possa cumprir a sua missão, todos juntos caminhando para o Corpo Místico
de Cristo.
Tudo o que existe tem de estar
ao serviço da comunhão (vertical e horizontal) e ao serviço da inculturação.
A cultura cristã não existe separada, está
inserida na cultura de um povo.
O Evangelli Gaudium coloca o Evangelho na promoção do bem comum e da
paz social.
A
ação da Igreja pensada com naturalidade
A pastoral deriva da palavra
pastor, que é quem a faz. Ela é a continuação da missão de Jesus, o bom Pastor,
junto da humanidade. É realizada pelo Corpo Místico de Cristo, da qual se faz
parte a partir do batismo. A tarefa da Igreja é anunciar o Reino de Deus e
coincide com a missão de Jesus. A presença do Reino é uma realidade de fé. A
ressurreição é o grande acontecimento do Reino de Deus, que nos convida a tomar
parte no banquete pascal, através da comunhão na mesa do Senhor.
A Igreja tem a tarefa de
evangelizar, começa com o Espírito Santo, na transmissão da Revelação. Proclama
o Evangelho e testemunha a vida teologal (fé, esperança e caridade). Tal como
os grãos dispersos se reuniram para formar um só pão e os bagos da uva se
reuniram para formar um só vinho, assim o homem se unifica com Jesus, através
da comunhão e da conversão.
Esta missão tem elementos
constantes como o anúncio do reino, reconhecer Jesus como Senhor, aceitar o
amor gratuito de Deus, conversão ao evangelho, chamamento à comunidade e
testemunhos de ressurreição.
Jesus convida a viver em
comunidade. Ele próprio formou a comunidade dos doze apóstolos que preparou e
ensinou para o anúncio da chegada do Reino. Sem comunidade não há verdadeiro
encontro com Cristo.
A ação da Igreja tem três
etapas: missão, iniciação cristã e Pastoral.
Na missão procura-se a primeira
adesão a Cristo, na iniciação recebem-se os sacramentos de iniciação, na
Pastoral faz-se um aprofundamento da fé e da vocação na comunidade. A Igreja
ensina doutrinas e preceitos para que todos sejam um exemplo de testemunho
(moral e sacramental) do Reino. A Sagrada Escritura e a Tradição não podem
dissociar-se. Elas ensinam o que fez e quem foi Jesus. Deus dá-se a conhecer
através de gestos de oração e de palavras na vida em Cristo.
O problema atual é o de
articular o ensino social de ambiente cristão com a iniciação cristã que é a
experiência de Cristo, pelo que temos de conciliar fé conhecida (palavras),
revelada (gestos), vivida (vida em Cristo) e rezada (oração).
Os elementos da fé, esperança,
doutrina e testemunho são um todo. Para haver evangelização tem de haver
inculturação. A afetividade reflete-se pela Dei
Verbum no culto, na doutrina, na catequese de adultos, na participação
eucarística e em Cristo no sacerdócio.
A conversão pastoral
engloba tudo o que se faz para as pessoas. As três virtudes: Fé, Esperança e
Caridade que se encontram em relação direta. A proposta de conversão é
harmonizar a pessoa, libertando o seu coração do que a escraviza.
Sérgio Lanza afirma que a
projetualidade (mentalidade e práticas) e o discernimento (espiritualidade e
método) constituem o meio de dinamizar a renovação da comunidade cristã,
possibilitando a conversão pastoral no sentido missionário, palavra da fé na
atualidade. A renovação do saber teológico para pelo abandono da cisão entre a
fé e a racionalidade (a fé no seu contexto vital e a reflexão abstrata, infecunda).
O restabelecimento da aliança entre a razão e a fé permitem o enriquecimento
científico. A Teologia não se restringe à teoria mas vincula-se à praxis. Só
uma reflexão orientada a partir da praxis é capaz de captar a realidade da fé.
A Teologia procura uma compreensão acerca da própria fé, quer em relação ao
conteúdo (fides quae), quer em
relação à decisão de acreditar (fides qua).
Cai o pragmatismo da eclesiologia através da sua contextualidade. O saber
teológico entendido como um saber prático. Toda a Teologia tem uma dimensão
pastoral. Importa projetar uma reflexão que encare a ação eclesial como um locus theologicus, onde os princípios e
a realidade dialoguem e se relacionem.
É importante definir o objeto
da teologia pastoral. A reflexão teológica sempre teve em consideração a praxis
como revelação incarnada, mas nem
sempre de forma explícita, evidencia-se em ocasiões de separação entre o
cristianismo e a cultura. A mudança de orientação na reflexão pastoral conduziu
à necessidade de diálogo entre a Igreja e o mundo. O que é estudado na Teologia
Prática é a ação eclesial, a vida da comunidade cristã e o exercício da sua
missão em diálogo. A ação eclesial é estudada na sua atuação no presente e na
sua projetualidade para o futuro, sob um horizonte hermenêutico da fé, que
funciona como critério.
Para Sérgio Lanza o principio
teológico fundamental é o da Incarnação, o reconhecimento de forma viva da
dupla natureza de Cristo, divina e humana. Para o Concílio da Calcedónia “Jesus
Cristo é o símbolo visível de uma realidade invisível”, da unidade do divino e
do humano, modo de ser da ação pastoral. O princípio da Incarnação remete para
uma reciprocidade entre a referência normativa (fé ou experiência do crente) e
o aspeto contextual (antropológico e sociocultural): ele é o princípio
epistemológico e o critério da Teologia Prática.
O método específico da Teologia
Prática, o modelo metodológico é a conjugação do rigor teórico com a
inteligência da fé e com a sua operatividade. A não autonomia do método em
relação ao conteúdo, contexto e aos objetivos. Cada ciência observa a realidade
do seu ponto de vista, com os instrumentos que possui. Exige uma metodologia crítica:
a fé como orientação da reflexão em curso. O modelo pastoral não deve ser
unidirecional e objetivante, o que conduz a um discurso instrumental. Para o
autor urge manter abertas as questões que dizem respeito às orientações.
Apresenta o discernimento como opção fundamental.
É uma leitura cristológica da
realidade sob o influxo do Espírito Santo. Exercita-se na ação e compreensão.
Procura o crescimento da comunidade eclesial e da renovação pastoral. Toca a
vida das comunidades e dos cristãos nos diversos níveis de existência cristã. É
a tomada de posição em relação aos acontecimentos salvíficos de Jesus
testemunhados pelas primeiras comunidades.
Um dos aspetos do quadro
referência é Eclesiologia de comunhão. O discernimento é comunitário e implica
conversão, transformação, contemplação, maturidade sapiencial, humildade,
caridade, paciência e liberdade interior. São necessários critérios de ação
eclesial no caminho da renovação e revitalização das comunidades cristãs.
Acontece na memória histórica como ato da Tradição.
Sérgio Lanza evidencia o discernimento
em cinco etapas assim resumidas: a questão, a oração, a reflexão (ambas
pessoais ou comunitárias), a objetivação e a decisão, neste último entra o
Projeto Pastoral, constituído por objetivos, etapas, participantes, meios e
instrumentos). Propõe o método do
discernimento teológico-pastoral. A ponte entre a fundamentação epistemológica
e o método corresponde às dimensões do método.
A dimensão kairológica
estabelece uma relação teológica com a realidade concreta, a partir do
princípio da Incarnação, mediante as condições culturais, sociais e éticas.
A dimensão operativa está na
elaboração do projeto como expressão continuada da renovação da fé. A dimensão
criteriológica, núcleo central, estabelece os critérios da fé e da razão para
orientar o estudo da praxis eclesial.
Os momentos do itinerário
metodológico são: análise e avaliação, decisão e projeção (articulação entre os
princípios da fé e os dados empíricos para que se renove a prática eclesial,
articulada com a comunidade), atuação e verificação (através da observação e
avaliação). A análise aproxima a ação eclesial da história, cultura e
sociedade, munindo-se do apoio das ciências humanas.
A articulação das dimensões
espiritual, eclesial e cultural acontece com o intuito de tornar o Reino de
Deus visível, presente no tempo atual e na vida da comunidade cristã,
fomentando a participação de todos.
Surge assim um renovado modelo
da praxis eclesial atual.
No dia 8 de
dezembro celebra-se o dia da Imaculada Conceição. Este dia invoca a vida e a
virtude de Virgem Maria, mãe de Jesus, concebida sem marca do pecado original.
É uma data de grande significado para a Igreja Católica.
Realiza-se uma festa religiosa que celebra um dogma católico definido
como festa universal, em 1476, pelo Papa Sisto IV. Pela sua importância, a data é
feriado nacional.