quinta-feira, 31 de dezembro de 2015

Plano Pastoral da Diocese de Coimbra



O Plano Pastoral da Diocese de Coimbra reflete os modelos Evangelizador e Libertador, com os critérios que lhes são elencados. Carateriza-se pela ação catequética, que mantém as suas estruturas muito vivas. No plano pastoral, são levadas a cabo inúmeras iniciativas na Diocese, tais como a Peregrinação anual a Fátima, que engloba todo o Arciprestado, onde é visível tanto a Diaconia: caridade, serviço, promoção, educação, liberdade e solicitação, como a Koinonia: comunhão, fraternidade, reconciliação, unidade, comunicação e comunidade;
Esta ação é repetida a nível local, pelos grupos de jovens, sempre com o apoio da Pastoral, estando presente o Anúncio (martírio): testemunho, profecia, catequese e pregação;


No final do ano realiza-se a Festa das Famílias, e ao longo do ano são acompanhadas as várias iniciativas e festividades cristãs, a nível nacional (fazendo referência à Liturgia, que torna os cristãos portadores de esperança através do anúncio de Jesus), a partir do batismo, que nos faz membros do Corpo Místico de Cristo.
No passado mês de setembro recebemos a imagem da Virgem Peregrina, em Penacova, de onde seguiu para a Lousã, o que envolveu a forte mobilização de todos no acolhimento de Nossa Senhora de Fátima, em visita pela nossa diocese.
Em suma, tem como Missão coroar a caminhada, tomando consciência da missão que Deus nos confia no momento presente da história e expressá-la da seguinte forma: «Diocese de Coimbra: Comunidade que vive a fé e anuncia o Evangelho, como caminho do encontro pessoal com Cristo, único Salvador, e com a sua Igreja».
Como a visão para os próximos anos: «Alicerçados em Cristo, formamos comunidades de discípulos para o anúncio do Evangelho», segundo as exigências da Nova Evangelização, de um tempo em profunda mudança social, demográfica, cultural, económica e religiosa.
A nossa diocese é muito diferenciada entre litoral e interior, urbano e rural, despovoamento e densidade urbana. O Plano Pastoral está dividido em objetivos, estratégias, atividades e avaliação dos mesmos. As várias ações levadas a cabo estão ao serviço da comunhão (vertical e horizontal) e ao serviço da inculturação.
 Deste modo, a Igreja diocesana procura a conversão nas suas estruturas, para responder com mais exigência à sua missão de “anunciar e instaurar o Reino de Cristo e de Deus em todos os povos” (LG 5).
A fé que se realiza, que se vive, que se proclama e celebra, corresponde ao desejo de irmandade e à paz universal.






Alberich refere a importância de colocar a ação catequética como enfoque  de um projeto pastoral com espírito evangelizador. Para o autor, tendo em conta as circunstâncias atuais da Igreja é necessário redescobrir e reformular a identidade cristã, como missão e como experiência de fé, numa sociedade em transformação. Para isso, é fundamental a missão dos cristãos, individual e em comunidade.




Modelos e Critérios de Ação Pastoral


O quadro abaixo classifica os quatro Modelos de Ação Pastoral. Mais à frente, serão relacionados com os critérios.
Vimos que o conceito de Pastoral se realizou em estreita relação com a história da eclesiologia. A ação da Igreja ordenou-se tendo como referência diversos conceitos eclesiológicos e situações históricas.
Ao falar de modelos de pastoral, falamos de uma ação da Igreja estruturada e ordenada em torno de ideias básicas. A Igreja precede qualquer modelo concreto de ação pastoral e não é o resultado de qualquer modelo. Eles ajudam a descobri-la. Não podem deixar de estar presentes:
-A palavra de Deus, a fé, a conversão e o batismo;
-A Eucaristia, a reconciliação, a solidariedade e a oração;
-Os Carismas, as tarefas, a participação de todos e a autoridade do Senhor;
-O pluralismo.
As dimensões da ação pastoral são quatro: a liturgia, a comunhão, o anúncio evangelizador e o serviço aos homens.
Cada um dos modelos sublinha uma dimensão. Tanto os modelos como os critérios não são fechados, podem transferir-se elementos de uns para os outros, como mostra a tabela apresentada.
 
Modelo tradicional
(pastoral tradicional caraterizada pela prática sacramental)
Modelo Comunitário
Modelo Evangelizador
“Nova Evangelização”
Modelo Libertador
(nasce da teoria da libertação, inicialmente na América Latina)
·         É o modelo que tem potenciado mais diretamente a ação litúrgica
·         Tem configurado uma Igreja que encontra no culto o seu principal campo de ação
·         Nele a Igreja compreendeu-se e atua num mundo sociologicamente cristão. O cristianismo era um dos meios para o desenvolvimento e o crescimento do homem.
·         Uma cultura cristã que transmite elementos e valores da fé àqueles que viviam nela.
Têm três consequências fundamentais para a vida da igreja:
- A preocupação exclusiva pela vida interior
- Uma segurança de alimentos adquiridos que libertava a Igreja de tarefas evangelizadoras
- Um reconhecimento social que facilitava à Igreja a execução das suas ações e não apresentava uma atitude excessivamente critica perante as mesmas.
Parte-se de uma imagem da Igreja como sociedade perfeita que tem em si mesma todos os meios para obter os seus fins.
Encontra-se estratificada em figura piramidal e compreende o protagonismo na ação pastoral. À medida que se vai descendo na pirâmide diminui a importância da obra, cresce a passividade e a falta de responsabilidade, e cresce a obediência.
Demasiado perfeita que se distancia do reino.
Proposta pastoral
ü  Forte dualismo antropológico
ü  Conceito de salvação espiritual
ü  Centra a sua ação pastoral na parte espiritual do homem
ü  A ação pastoral proposta é a de cura animarum realizada através da sacramentalização.
ü  O homem é encarado na sua individualidade e não nas diversas dimensões sociocomunitárias.
A ação pastoral é representada ativamente pelos sacerdotes e recebida passivamente pelos leigos.
Ação pastoral
As ações fundamentais são as de culto sacramental;
Tem a paróquia como plataforma de realização;
A ação catequética é entendida na sua relação com os sacramentos que se vão receber;
A pastoral da Palavra situa-se no mesmo contexto das missões, exercícios espirituais, cursos, retiros, com o objetivo fundamental de levar aos homens os sacramentos, favorecido pela prática da vida pastoral comunitária.
A caridade entendida de modo assistencial corresponde à ação individual ou associada a algumas estruturas eclesiais.
Conclusão
Os aspetos antropológicos são pouco considerados;
A prática cristã consiste numa ética derivada das normas canónicas e centrada na prática sacramental: como se confessar, celebrar a missa, fazer oração. Goza da reciprocidade tanto para o sacerdote como para o leigo.
 
 Critérios de ação pastoral com os quais se relaciona:
(CCMC) Critério Sacramental: o papel da Igreja é dar visibilidade à ação de Deus na história e carateriza-se por ser um meio eficaz de salvação no mundo.
 
 
 
 
 
 
 
·         Legenda:
·         CCMC: Critérios que brotam da continuidade da missão de Cristo
·         CCR: Critérios que brotam do caminho para o Reino
·         CPMM: Critérios que brotam da presença e missão no mundo
 
 
·         Surge no Concílio do vaticano II: uma Igreja que se entende como comunidade;
·          O reconhecimento das comunidades eclesiais como meio de viver a fé;
·         Responde à massificação colocada pelo modelo tradicional: a conceção das paróquias como esquemas rígidos e a perda do caráter sociológico sobre o qual assentava a paróquia e a comunidade pastora, sobretudo no meio rural;
·         A massificação torna possível uma pastoral administrativa, mas não é a realidade comunitária, onde estão ausentes os laços afetivos.
·         Desejo de renovação e de comunhão das comunidades;
As ideias básicas que a sustentam partem das conceções eclesiológicas assumidas no Conc. Vat. II e são:
-A conceção da Igreja como um mistério de comunhão que tem a sua origem no mistério de Deus;
- A Igreja é para o mundo e a testemunha a missão legada por Jesus.
 
Tal leva à comunidade uma estrutura pastoral que permite viver na autenticidade da fé.
A renovação das estruturas da Igreja leva a que a comunidade seja unida por fortes laços sendo possível a partilha de bens e de compromissos comunitários.
A Paróquia é entendida como uma comunidade. A plenitude do ser Igreja dá-se na Igreja diocesana. Dá origem à Igreja universal, de troca de bens entre as dioceses e a preocupação para todas as Igrejas
 
Planeamento pastoral
ü  A edificação da Igreja com base na pequena comunidade, para toda a Igreja, e fazer de cada comunidade uma célula da Igreja.
ü  O que vai dar origem à classificação por diferentes tipos de comunidades, todas tendo em comum a renovação e a experiência da fé, com realizações que podem ser diferentes.
ü  O encontro com a Igreja torna-os comunidade universal e aberta.
 
Ação pastoral
A pequena comunidade cristã transforma-se num sinal de salvação que realiza e mostra o poder transformador do amor.
A forte intensão de evangelizar e a Palavra de Deus como fonte e origem de toda a evangelização.
A liturgia é própria, com adaptações, sendo frequente o envolvimento na escuta e meditação da Palavra.
A participação de todos os membros na vida da comunidade.
A vida comunitária potencia ministérios, que são reconhecidos e emergem das necessidades reais da comunidade.
A ação pastoral é construída em conjunto pela comunidade.
 
 
 
 
 
·         Refere-se ao primeiro anúncio do Evangelho, que provoca uma adesão a Cristo e à igreja por parte de quem o escuta, daí a envolvente de todos os membros da pastoral, da vida e ação eclesial.
·         Igreja concreta pela qual a Espanha optou; João Paulo II fala de segunda evangelização.
·         O cristianismo sociológico não mostra uma autenticidade da fé e uma realidade pobre da vida eclesial (doutrina, culto e testemunho).
·         Manifesta-se numa ampla sacramentalização (os sacramentos como costume social) e a uma ação pastoral reduzida apenas a algumas áreas da vida.
·         A pobreza e a marginalização questionam se estas também são um sinal do Reino.
As ideias eclesiológicas básicas são a missão como autenticidade da comunhão e a natureza sacramental, que estão na génese deste modelo.
Abertura da Igreja ao mundo para a qual é entendida como um sacramento de salvação.
Os homens são os destinatários da sua ação:
ü  A Igreja respeita a autonomia dos homens e do mundo
ü  O diálogo na conceção antropológica
ü  O serviço a cada pessoa
ü  A participação
ü  O pluralismo. Os cristãos escolhem a partir da fé quais as questões do mundo que melhor se adaptam à sua consciência.
Planeamento pastoral
v  Preocupação com a evangelização efetiva: uma reevangelização dos cristãos e iniciação cristã que servem para uma fé madura e autêntica.
v  É necessário romper com a pastoral de subsistência e deixar os saudosismos.
v  A missão da Igreja realiza-se em cada momento e no mundo em que vivemos, o plano de salvação destina-se a todos.
v  A Igreja sacramento implica uma sintonia maior com os problemas do Homem, do mundo e uma maior proximidade.
v  A Igreja deve mostrar todo o seu valor profético.
v  A unidade da Igreja em torno da evangelização é compatível com o pluralismo e a comunhão.
v  A unidade deve levar a uma pastoral de conjunto para toda a Igreja.
Ação pastoral
Verdadeira celebração dos sacramentos e recuperação do catecumenado;
Fortalecimento da missão nos ambientes mais afastados da vida da Igreja: cultura, trabalho e a juventude, os atentados contra a vida e as diversas formas e exploração.
A promoção da participação do laicado e dos movimentos apostólicos.
A participação em locais e plataformas empenhados nas mudanças das estruturas sociais;
A presença pública da Igreja e o testemunho.
Dar importância à religiosidade popular e o fortalecimento da conversão das instituições.
 
Critérios de ação pastoral com os quais se relaciona:
(CCMC) Critério de Conversão: possibilita que os indivíduos e instituições sejam mais conformes ao projeto de Deus, de modo a superarmos a distância em relação a Cristo, em que nos colocam as nossas fragilidades, pecados e angústias. Carateriza-se por uma ação pastoral capaz de operar uma transformação profunda no coração dos crentes e despertar o desejo cada vez mais profundo de seguir a Cristo.
 
(CPMM) Critério da encarnação: permite-nos conhecer o outro e encetar o diálogo com ele.
O Evangelho em diálogo com a cultura produz cultura cristã.
 
·         Libertação daquilo que escravizava o ser humano, como sinal da presença do Reino;
·         Apoia-se na leitura do Conc. Do  Vat. II que vê no método teológico da Gaudium et Spes o compromisso social e cristão dos membros da Igreja como parte constitutiva da evangelização, recorrendo às ciências sociais.
As ideias eclesiológicas básicas são:
-A igreja é percebida como sacramento de união entre Deus e a humanidade, e dos homens entre si;
-O valor eclesiológico das Igrejas locais, a partir das quais emerge a Igreja na sua plenitude;
-A distinção entre Igreja institucional e o Reino de Deus, a Igreja ao serviço do Reino;
-O diálogo com o mundo para a criação de uma sociedade mais justa na qual todos possam ser felizes.
- Estas ideias têm servido de base para o desenvolvimento teórico e prático da pastoral da “teologia da libertação”.
Planeamento pastoral
ü  A tomada de consciência da situação social em que se exerce a evangelização de modo a tornar eficaz o anúncio da salvação;
ü  A tomada de consciência da situação é uma opção pastoral;
ü  O anúncio da salvação é o tema central;
ü  A eficácia implica objetivos e meios (as escolhas a partir das quais é compreendida a força libertadora do Evangelho).
Ação pastoral
v  Coloca a catequese (formação) como a fonte de toda a praxis libertadora: forma de tomar consciência do pecado e da situação de graça;
v  A atitude profética manifesta-se na sociedade e nas condições sociopolíticas que urge transformar;
v  O modelo libertador situa-se em comunhão com a Igreja institucional, que deseja transformar.
v  Postula que os cristãos o transformem concreto que possa ser mediação na instauração do Reino.
v  O povo de Deus assume a missão de transformar a sociedade e fazer do Evangelho a força libertadora;
v  Tal acontece nas comunidades.
v  As comunidades são a base e não a Igreja construída de cima, nas pessoas e através dos seus carismas, dons e mistérios.
v  A Igreja é evangelizadora e evangelizada ao mesmo tempo: o evangelho transforma quem o recebe e quem o transmite, sem o qual seria um mero serviço de interesses.
v  Esta pastoral libertadora faz uma opção pelos pobres, para que haja uma consciência crítica, em sintonia com o evangelho que também se manifesta por intermédio dos pobres.
v  A liturgia também está muito ligada a este ideal de libertação, porque Cristo é o caminho para a salvação, onde a religiosidade popular assume importância, na sua simplicidade.
 
Critérios de ação pastoral com os quais se relaciona:
(CCMC) Critério Teândrico: mistura da ação humana com a ação divina, de igual forma, sem preferir uma em detrimento da outra, sendo possível continuar a missão de Cristo na Igreja.
 
 
(CCR) Critério da historicidade: ter consciência de um passado, um presente e um futuro permite-nos analisar a realidade e entender onde podemos intervir e melhorar . A ação pastoral é marcada pelo dinamismo da história o ser peregrino uma dimensão fundamental da Igreja.
 
(CCR) Critério de abertura aos sinais dos tempos:
Relaciona-se com a permanente atitude de sentinela e de discernimento.
 
(CCR) Critério de universalidade: a ação da Igreja incorpora todos os homens na universalidade da salvação. A missão da Igreja é levar a salvação a todos e fazer de todos agentes da ação pastoral.
 
(CPMM) Critério de diálogo (toda a linguagem de fé entendida pelo homem na atualidade): Toda a ação pastoral está ao serviço da ação de Deus, capacidade mediante a qual a Igreja é mediadora de Cristo.

(CPMM) Critério de missão: a ação pastoral continua a evangelização de todos, tendo como fim último a unidade, a comunhão da Igreja e de todos os crentes.
 
 
 
 

sexta-feira, 11 de dezembro de 2015

A ação eclesial em ação


A ação eclesial em ação

«Por entre as linhas que tecem esta forma de estar no mundo, o apelo divino encontrará um lugar real e bem-disposto onde ressoar, um sujeito capaz de o pressentir afetivamente, de o discernir com inteligência, de lhe responder livremente, precisamente enquanto o reconhece digno de confiança. Finalmente, de confiar e de se confiar, de assentir e de se empenhar, isto é, de avançar a própria existência como penhor-garantia dessa decisão livre. Por outras palavras, de crer».  (José Frazão Correia, «A Fé como forma vital e forma expressiva da existência humana», in Aa.Vv., A fé da Igreja, ed. Paulus, Lisboa 2014, 22).

O texto em análise fala-nos de quando há necessidade de repensar a Igreja no mundo atual, tendo por base a necessidade de reconsiderar a identidade cristã, numa sociedade em transformação permanente.

A ação da Igreja identifica-se por um conjunto articulado de ações evangelizadoras entre os agentes da Evangelização, devidamente articulados e conjuntamente com uma visão eclesial global. Essa é a ação de todos os cristãos enquanto Igreja, a articulação evangelizadora da Igreja com o sacramento universal da Salvação.

A tarefa fundamental e objetivo final da ação eclesial é estar no mundo ao serviço do Reino.

A fé que se realiza, que se vive, que se proclama e celebra, as funções, mediações eclesiais clamados sinais evangelizadores distribuem-se do seguinte modo:

-Serviço (Diaconia): caridade, serviço, promoção, educação, liberdade e solicitação;

- Comunhão (Koinonia): comunhão, fraternidade, reconciliação, unidade, comunicação e comunidade;

-Anúncio (martírio): anúncio, testemunho, profecia, catequese e pregação;

-Liturgia: eucaristia, sacramentos, celebrações, festas, devoção e oração.

São estas as funções ou mediações eclesiais (“sinais evangelizadores”) da Igreja ao serviço do Reino de Deus.

À luz desta divisão quadripartida, a cada uma das ações corresponde um dos âmbitos principais da ação eclesial/funções sacramentais, que são:

- Missionário: presença, serviço, diálogo, testemunho e primeiro anúncio;

-Catecumenal: acolhimento, acompanhamento, catequese, iniciação e mistagogia;

-Pastoral: caridade, pregação, catequese, vida de comunidade e celebração;

- Presença no mundo: testemunho, promoção, participação, ação cultural e ação sociopolítica.

Para que se possa realizar a ação eclesial, os agentes e condições institucionais são as estruturas, instituições e serviços. Tudo está implicado para uma boa pastoral. 

O objetivo e tarefa fundamental da ação eclesial ao serviço do Reino

A Igreja existe ao serviço do projeto do Reino de Deus, não o é mas para ele caminha. Constitui na terra o princípio deste reino de amor, paz e justiça. É o anúncio da presença do grande projeto de Deus anunciado no Novo Mandamento. Ela é o sacramento universal da salvação, de todos, ad intra e ad extra. A praxis eclesial é uma operação transcendental.

A praxis vê-se projetada para a vinda e crescimento dos valores do Reino, a comunhão com Deus e com os homens, a fraternidade e a felicidade.

Segundo o Gaudieum et Spes a Igreja, ao serviço da humanidade, está no mundo, para o mundo, repensando-se a relação Igreja-Mundo. O mundo é o lugar de realização do Reino através do Espírito. A Igreja constitui-se como sacramento da salvação na medida em que vive e realiza o amor e a caridade. A ação da Igreja é: serviço, comunhão, anúncio e ritos, sintetizando os quatro sinais evangelizadores.

O ideal do reino faz-se visível no mundo por meio de quatro formas fundamentais: diaconia (amor e fraternidade), koinia (comunhão), martíria (anúncio salvífico do Evangelho) e liturgia (celebração e ritos festivos de alegria).

Como nenhuma mediação consegue sozinha caminhar para o Reino, antropologia, soteriologia, sacramentologia e dogmática encontram-se interligadas e a trabalhar conjuntamente em cada organização da Igreja.

Os quatro fatores antropológicos que se relacionam com o anúncio e celebração (Diaconia) da Igreja são a ação, a relação, o pensamento e a celebração.

A Koinia corresponde ao desejo de irmandade e à paz universal. Ao Martírio corresponde o desejo de libertação e de interpretação da vida e da história. A Liturgia torna os cristãos portadores de esperança através do anúncio de Jesus.

Os quatro anteriores sinais evangelizadores manifestam a missão da Igreja no mundo, que é a de oferecer a todos um novo amor universal, uma nova forma de convivência fraterna, uma mensagem e testemunho preenchido de vida e de esperança e um conjunto de ritos expressivos de uma vida em plenitude.

As funções eclesiais não podem separar-se entre si como realidades independentes. A diaconia e a koinia tem um lugar de destaque, pois contém os valores fundamentais do Reino, de amor e comunhão.

Há uma complementaridade entre os sinais. O conjunto das funções eclesiais constitui um todo orgânico da globalidade da experiência eclesial.

A ação missionária, catecumenal, pastoral, presença e ação no mundo são os âmbitos principais do processo evangelizador.

A Incarnação do Verbo é fundamental porque na carne se vive a fé e adesão a Cristo. A dimensão mais eficaz faz parte do sacramento da Eucaristia e é a da caridade na evangelização.

A Igreja realiza a sua missão por etapas: anúncio missionário, anúncio catequético, anúncio pastoral e anúncio no mundo.

A missão dirige-se aos crentes e aos não crentes, porque Deus quer que todos se salvem e assume várias formas, de presença, serviço, diálogo e testemunho, até chegar ao anúncio do Evangelho.

Na passagem do anúncio missionário para o catequético é quando o individuo sente o apelo no seu coração e quer aderir à fé. Dá-se o seu acolhimento, acompanhamento, catequese, iniciação em ritos e sacramentos. A ação catecumenal é uma função essencial da Igreja, expressão da sua maternidade.

Quanto ao anúncio pastoral nele há vivência e formação. È a ação dentro da comunidade eclesial, no exercício das tradicionais funções de culto, celebração, sacramento, pregação catequese, vida da comunidade e serviço da caridade.

O anúncio no mundo é o testemunho evangélico na sociedade, feito através de obras de promoção humana, de ação social, educativa e cultural, fomento da paz e do compromisso ecológico.

Os agentes e instituições da prática eclesial compõem-se por pessoas, instituições e serviços para que a Igreja possa cumprir a sua missão, todos juntos caminhando para o Corpo Místico de Cristo.

Tudo o que existe tem de estar ao serviço da comunhão (vertical e horizontal) e ao serviço da inculturação.

 A cultura cristã não existe separada, está inserida na cultura de um povo.

O Evangelli Gaudium coloca o Evangelho na promoção do bem comum e da paz social.

A ação da Igreja pensada com naturalidade

A pastoral deriva da palavra pastor, que é quem a faz. Ela é a continuação da missão de Jesus, o bom Pastor, junto da humanidade. É realizada pelo Corpo Místico de Cristo, da qual se faz parte a partir do batismo. A tarefa da Igreja é anunciar o Reino de Deus e coincide com a missão de Jesus. A presença do Reino é uma realidade de fé. A ressurreição é o grande acontecimento do Reino de Deus, que nos convida a tomar parte no banquete pascal, através da comunhão na mesa do Senhor.

A Igreja tem a tarefa de evangelizar, começa com o Espírito Santo, na transmissão da Revelação. Proclama o Evangelho e testemunha a vida teologal (fé, esperança e caridade). Tal como os grãos dispersos se reuniram para formar um só pão e os bagos da uva se reuniram para formar um só vinho, assim o homem se unifica com Jesus, através da comunhão e da conversão.

Esta missão tem elementos constantes como o anúncio do reino, reconhecer Jesus como Senhor, aceitar o amor gratuito de Deus, conversão ao evangelho, chamamento à comunidade e testemunhos de ressurreição.

Jesus convida a viver em comunidade. Ele próprio formou a comunidade dos doze apóstolos que preparou e ensinou para o anúncio da chegada do Reino. Sem comunidade não há verdadeiro encontro com Cristo.

A ação da Igreja tem três etapas: missão, iniciação cristã e Pastoral.

Na missão procura-se a primeira adesão a Cristo, na iniciação recebem-se os sacramentos de iniciação, na Pastoral faz-se um aprofundamento da fé e da vocação na comunidade. A Igreja ensina doutrinas e preceitos para que todos sejam um exemplo de testemunho (moral e sacramental) do Reino. A Sagrada Escritura e a Tradição não podem dissociar-se. Elas ensinam o que fez e quem foi Jesus. Deus dá-se a conhecer através de gestos de oração e de palavras na vida em Cristo.

O problema atual é o de articular o ensino social de ambiente cristão com a iniciação cristã que é a experiência de Cristo, pelo que temos de conciliar fé conhecida (palavras), revelada (gestos), vivida (vida em Cristo) e rezada (oração).

Os elementos da fé, esperança, doutrina e testemunho são um todo. Para haver evangelização tem de haver inculturação. A afetividade reflete-se pela Dei Verbum no culto, na doutrina, na catequese de adultos, na participação eucarística e em Cristo no sacerdócio.

A conversão pastoral engloba tudo o que se faz para as pessoas. As três virtudes: Fé, Esperança e Caridade que se encontram em relação direta. A proposta de conversão é harmonizar a pessoa, libertando o seu coração do que a escraviza.



Sérgio Lanza afirma que a projetualidade (mentalidade e práticas) e o discernimento (espiritualidade e método) constituem o meio de dinamizar a renovação da comunidade cristã, possibilitando a conversão pastoral no sentido missionário, palavra da fé na atualidade. A renovação do saber teológico para pelo abandono da cisão entre a fé e a racionalidade (a fé no seu contexto vital e a reflexão abstrata, infecunda). O restabelecimento da aliança entre a razão e a fé permitem o enriquecimento científico. A Teologia não se restringe à teoria mas vincula-se à praxis. Só uma reflexão orientada a partir da praxis é capaz de captar a realidade da fé. A Teologia procura uma compreensão acerca da própria fé, quer em relação ao conteúdo (fides quae), quer em relação à decisão de acreditar (fides qua). Cai o pragmatismo da eclesiologia através da sua contextualidade. O saber teológico entendido como um saber prático. Toda a Teologia tem uma dimensão pastoral. Importa projetar uma reflexão que encare a ação eclesial como um locus theologicus, onde os princípios e a realidade dialoguem e se relacionem.  

É importante definir o objeto da teologia pastoral. A reflexão teológica sempre teve em consideração a praxis como revelação incarnada, mas nem sempre de forma explícita, evidencia-se em ocasiões de separação entre o cristianismo e a cultura. A mudança de orientação na reflexão pastoral conduziu à necessidade de diálogo entre a Igreja e o mundo. O que é estudado na Teologia Prática é a ação eclesial, a vida da comunidade cristã e o exercício da sua missão em diálogo. A ação eclesial é estudada na sua atuação no presente e na sua projetualidade para o futuro, sob um horizonte hermenêutico da fé, que funciona como critério.

Para Sérgio Lanza o principio teológico fundamental é o da Incarnação, o reconhecimento de forma viva da dupla natureza de Cristo, divina e humana. Para o Concílio da Calcedónia “Jesus Cristo é o símbolo visível de uma realidade invisível”, da unidade do divino e do humano, modo de ser da ação pastoral. O princípio da Incarnação remete para uma reciprocidade entre a referência normativa (fé ou experiência do crente) e o aspeto contextual (antropológico e sociocultural): ele é o princípio epistemológico e o critério da Teologia Prática.

O método específico da Teologia Prática, o modelo metodológico é a conjugação do rigor teórico com a inteligência da fé e com a sua operatividade. A não autonomia do método em relação ao conteúdo, contexto e aos objetivos. Cada ciência observa a realidade do seu ponto de vista, com os instrumentos que possui. Exige uma metodologia crítica: a fé como orientação da reflexão em curso. O modelo pastoral não deve ser unidirecional e objetivante, o que conduz a um discurso instrumental. Para o autor urge manter abertas as questões que dizem respeito às orientações. Apresenta o discernimento como opção fundamental.

É uma leitura cristológica da realidade sob o influxo do Espírito Santo. Exercita-se na ação e compreensão. Procura o crescimento da comunidade eclesial e da renovação pastoral. Toca a vida das comunidades e dos cristãos nos diversos níveis de existência cristã. É a tomada de posição em relação aos acontecimentos salvíficos de Jesus testemunhados pelas primeiras comunidades.

Um dos aspetos do quadro referência é Eclesiologia de comunhão. O discernimento é comunitário e implica conversão, transformação, contemplação, maturidade sapiencial, humildade, caridade, paciência e liberdade interior. São necessários critérios de ação eclesial no caminho da renovação e revitalização das comunidades cristãs. Acontece na memória histórica como ato da Tradição.

Sérgio Lanza evidencia o discernimento em cinco etapas assim resumidas: a questão, a oração, a reflexão (ambas pessoais ou comunitárias), a objetivação e a decisão, neste último entra o Projeto Pastoral, constituído por objetivos, etapas, participantes, meios e instrumentos). Propõe o método do discernimento teológico-pastoral. A ponte entre a fundamentação epistemológica e o método corresponde às dimensões do método.

A dimensão kairológica estabelece uma relação teológica com a realidade concreta, a partir do princípio da Incarnação, mediante as condições culturais, sociais e éticas.

A dimensão operativa está na elaboração do projeto como expressão continuada da renovação da fé. A dimensão criteriológica, núcleo central, estabelece os critérios da fé e da razão para orientar o estudo da praxis eclesial.

Os momentos do itinerário metodológico são: análise e avaliação, decisão e projeção (articulação entre os princípios da fé e os dados empíricos para que se renove a prática eclesial, articulada com a comunidade), atuação e verificação (através da observação e avaliação). A análise aproxima a ação eclesial da história, cultura e sociedade, munindo-se do apoio das ciências humanas.

A articulação das dimensões espiritual, eclesial e cultural acontece com o intuito de tornar o Reino de Deus visível, presente no tempo atual e na vida da comunidade cristã, fomentando a participação de todos.

Surge assim um renovado modelo da praxis eclesial atual.






No dia 8 de dezembro celebra-se o dia da Imaculada Conceição. Este dia invoca a vida e a virtude de Virgem Maria, mãe de Jesus, concebida sem marca do pecado original. É uma data de grande significado para a Igreja Católica.
Realiza-se uma festa religiosa que celebra um dogma católico definido como festa universal, em 1476, pelo Papa Sisto IV. Pela sua importância, a data é feriado nacional.